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CONHEÇA O ESPIRITISMO - blog de divulgação da doutrina espírita


domingo, 26 de dezembro de 2010

PEDAGOGIA E FELICIDADE

            Nunca a humanidade mendigou tanta atenção e afeto. Uma crise de autodesvalor, sem precedentes, assola multidões. O sentimento de indignidade é o piso emocional das feridas seculares que causam a sensação de inferioridade, abandono e falência. Não se sentindo amadas, almas sem conta não conseguirem superar os dramas da rejeição e os tormentos da solidão. Optam pela falência não assumida. Uma existência sem sentido, vazia de significados, sem metas; a caminho da derrocada moral e espiritual.
            Somente o tratamento lento e perseverante de tecer o manto protetor da segurança íntima, utilizando o fio do auto-amor, poderá renovar essa condição interior do ser humano.
            Agrilhoado pela ilusão do menor esforço, o homem busca a ilusão como sinônimo de paz. Anseia-se pela felicidade como se tal estado da alma pudesse ser fruto da aquisição de facilidades e privilégios.
            Contudo, a felicidade é uma conquista que se faz através da educação de si mesmo. Busca-la no exterior é dar prosseguimento a uma procura recheada de decepções e dor.
            Educar para ser feliz é dar sentido à existência. O homem contemporâneo padece a doença do sentido. O vazio existencial é o corrosivo de seu mundo íntimo.
            Quando um homem descobre que seu destino lhe reservou um sofrimento, tem que ver neste sofrimento também uma tarefa sua, única e original. Mesmo diante do sofrimento, a pessoa precisa conquistar a consciência de que ela é única e exclusiva em todo o cosmo dentro desse destino sofrido. Ninguém pode assumir dela o destino, e ninguém pode substituir a pessoa no sofrimento. Mas na maneira como ela própria suporta este sofrimento está também a possibilidade de uma realização única e singular.
            A primeira condição para se estabelecer um sentido à vida é o exercício da singularidade. Descobrir seus próprios caminhos, lutar por seus sonhos, celebrar sua diversidade aceitando suas particularidades, participar da vida como se é, sentir o gosto de se desligar de uma vida centrada no ideal e realizar-se no real.
            A vida em si mesma não tem um sentido, algo que se possa definir através de padrões ou princípios filosóficos. Esse sentido é construído pelas percepções individuais sob as lentes da singularidade humana que, a partir de diretrizes gerais, capacita-se a seguir sua rota intuitiva na direção da perfeição.
            O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a vida terrena. O modo de encarar ou perceber a vida terrena é a leitura pessoal de ser no mundo.
            A felicidade resulta da habilidade de consolidar esse sentido a partir do olhar de impermanência. O enfoque da transitoriedade e do desprendimento.
            Quase sempre sentimo-nos seguros adotando o parecer da maioria, um sentimento natural até certa etapa da jornada de crescimento. Chegará, porém, o instante em que a vida convidar-nos-á ao processo inevitável das descobertas singulares. Isso não significa estar alheio à convivência, ao processo de interação grupal. É apenas ter mais consciência do que convém ou não ao desenvolvimento individual na interação social.
            Nas nossas frentes de serviços doutrinários somos convocados a urgente auto-avaliação nesse tema para erguimento da felicidade pessoal. Com um movimento acentuadamente dirigido para a coletivização, a uniformidade de conceitos e práticas escasseia o estímulo ou aceitação para a diversidade. Nesse contexto, freqüentemente, idéias criativas e condutas diferentes são acolhidas com descem. Esfriam relações e ensejam a indiferença. São tachadas de personalismo e vaidade. Mais uma razão para tecer o auto-amor e investigar a forma pessoal de caminhar.
            Sem medo do individualismo, que é muito diferente da individuação, é imperioso aprendermos a investigar o coração em busca do mapa singular do Pai à nossa jornada de aprimoramento. Quem se ama vive a maravilhosa experiência de sentir brotar em sua alma, espontaneamente, uma cumplicidade poderosa com a vida, o próximo e a Obra Divina. Quanto mais amor a quem somos, mais amamos a vida. O sentido da existência está no ato de percebermos o que significamos na Obra Paternal.
            O segundo ponto essencial na construção do sentido é desenvolver a habilidade de superar o sofrimento. O prazer de viver surge quando, efetivamente, entendemos as razões de nossas dores e como supera-las. Sofrer e não saber o que fazer para sair dessa roda de dores: nisso consiste o carma, a roda da vida. Possuir valores e não saber como utiliza-los para o bem: nisso reside o carma sutil da nobreza das intenções em conflito com a conduta que adotamos.
            Quando desenvolvemos a arte de abrir o cadeado de nossas mazelas, soltamo-nos para novas vivências. Desprendemos das velhas amarras mentais, dos complexos afetivos, dos condicionamentos. Quando aprendemos a lidar com nossos valores, a vida se plenifica.
            A dor existe para incitar a inteligência na descoberta de soluções em nós mesmos. A grande lição nesse passo é descobrir as causas das aflições. O sentido da existência não está fora, mas dentro de nós. Podemos compartilha-lo com o outro, entretanto, ele não depende do outro.
            Como temos dificuldade em assumir a nossa fragilidade! Quanta dificuldade demonstramos para admitir nossa falibilidade! Sentimo-nos pequenos, incompetentes ao nos deparar com as batalhas não vencidas ou com as imperfeições não superadas, agravando ainda mais as provações.
            Que tormentos se poupa aquele que sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o que não possui, que não procura parecer mais do que é.
            Ser feliz é contentar-se com o que se é sem que isso signifique estacionar. É o amor a si.
            Nisso resume a consolidação do sentido da vida:
  • Saber quem somos, o que a vida espera de nós, a missão particular, única e intransferível. É o exercício da singularidade.
  • Zelar pela manutenção desse processo de individuação através da superação das mensagens inconscientes de desvalor e incapacidade, diante de nossos sofrimentos, integrando-as ao self translúcido, que se encontra ao nosso inteiro dispor.
Uma pedagogia de felicidade deve assentar-se no auto-amor em busca do self reluzente. Desenvolver as habilidades da inteligência espiritual, tais como autoconsciência, resiliência, visão holística, alteridade, autoconfiança, curiosidade, criatividade, disciplina no adiamento das gratificações, sensibilidade, compaixão, naturalidade. Eis alguns caminhos da pedagogia para a sanidade humana que poderão ser experimentados pelas nossas agremiações de amor em seus programas de consolo e esclarecimento:
  • Exercer dinâmicas de autoconhecimento
  • Compreender os mecanismos punitivos da culpa e como supera-los
  • Desenvolver técnicas de sensibilidade do afeto.
  • Fazer uso dos recursos psicoterapêuticos bem orientados pelos mentores espirituais.
  • Meditar
  • Orar
  • Implantação de pequenos círculos de diálogo sobre valores humanos
  • Participar de atividades de cooperação social, criando espaço para estudar os sentimentos decorrentes dessa prática.
  • Cultivar a crença de que todos somos dignos da Bondade Celeste em quaisquer circunstâncias
  • Desenvolver a autonomia.
Quem ama a si mesmo sente-se rico. É excelente companhia para si mesmo. Descobriu seu valor pessoal na Obra da Criação e tem consciência plena da Bondade do Pai em favor de sua caminhada individual. Todas essas sensações, é bom destacar, operam-se no reinado do coração, são sentimentos e não formas de pensar. Nisso reside o sentimento de merecimento ou, como costumamos nomear, a maior conquista espiritual para ser feliz. Não foi fruto de instrução, mas serviço de renovação efetiva nas matrizes da vida mental profunda, nas células afetivas.
      Quem se ama dispensa a imponência das máscaras. É feliz por ser quem é. Aprendeu que “Dele, porém, depende a suavização de seus males e o ser tão feliz quanto possível na Terra”.

Do livro: ESCUTANDO SENTIMENTOS – a atitude de amar-nos como merecemos
Wanderley de Oliveira/Ermance Dufaux

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